Como evitar colisão de velames

A resposta para o título do artigo é simples… salte sozinho e não terá uma colisão entre velames! Fim do artigo.

Ok, isso é não é nada prático, se você sempre saltar sozinho, nunca haverá outro velame no ar para se preocupar. No entanto, raramente saltamos sozinhos e gostamos de saltar em grupos, então as colisões são geralmente um fator que devemos considerar e evitar em todo salto sempre que houver outro paraquedista no céu ao mesmo tempo.

Os dois momentos de maior risco para colisão de velame são: durante a abertura e no momento do pouso.

Estes são os momentos mais comuns onde ocorre uma colisão logo após ou durante a abertura do velame principal, ou antes de pousar já próximo do chão, pois todos os paraquedistas estão indo para a área de pouso quase ao mesmo tempo.

SEPARAÇÃO DE COMANDO

O planejamento começa no chão, ANTES do salto.

Evitar colisões começa com um planejamento adequado em solo, antes mesmo do avião decolar. Todos precisam estar cientes da direção e velocidade do vento, navegação, tamanho dos grupos e o tempo de separação entre os grupos com base no vento.

paraquedista que sofreu colisão de velame

Duas considerações sobre colisões em altas altitudes

  • Separação entre grupos
  • Separação entre paraquedistas do mesmo grupo

Fazer uma separação adequada entre grupos, bem como uma separação entre os paraquedistas em seu próprio grupo, são fatores críticos para reduzir as chances de haver uma colisão durante ou logo após a abertura.

SEPARAÇÃO DE GRUPOS

  • Modalidade do salto
  • Tamanho do grupo
  • Velocidade da aeronave em relação ao solo

A forma como será feita a separação entre os grupos depende muito desses três fatores: a modalidade que será praticada no salto (voo de barriga, freefly, etc.), o tamanho do grupo e a velocidade da aeronave em relação ao solo.

Ordem de saída por grupo

Gráfico com a ordem de saída dos grupos

Uma ordem de saída bem definida que ajuda a promover a separação dos grupos é a seguinte: 

  1. Grupos de desloc ou tracking
  2. Grupos de belly fly (barriga) do maior para o menor
  3. Desloc ou tracking
  4. Grupos de freefly do maior para o menor
  5. Alunos em salto solo ou com instrutores
  6. Saltos duplo
  7. Wingsuits
  8. Paraquedistas que irão comandar alto

QUAL A DISTÂNCIA MÍNIMA?

  • Velocidade do velame é de mais ou menos 45 km/h, percorrendo 44 pés de distância por segundo
  • São necessários 3 segundos para identificar e agir a um velame que se aproxima
  • Dois velames em rota de colisão frontal irão percorrer 300 pés em 3 segundos

Então, como você determina a distância necessária entre os grupos? Primeiro determine qual deve ser a distância mínima de segurança. Assumindo que a velocidade do velame é de 45 km/h e que você leva aproximadamente três segundos para agir assim que identificar que você está em rota de colisão com outro paraquedista, a distância percorrida por dois velames voando de frente seria de aproximadamente 300 pés em três segundos.

Separação mínima para dois paraquedistas

Abaixo temos uma imagem que demonstra esse requisito de espaço aéreo. Lembre-se de que essa seria a distância mínima necessária para evitar uma colisão.

desenho de separação de um 2-way

Para obter uma separação de 300 pés entre os paraquedistas em um 4-way, cada um precisa fazer um tracking de 212 pés a partir do centro, para que as colunas de ar individuais não se sobreponham.

desenho de separação entre o próprio grupo

A separação dentro de grupo é adequada quando a sinalização de fim do salto e o tracking é feito para longe do centro da formação. A geometria mostra que um tracking de no mínimo 212 pés é necessária para os membros de um 4-way obter uma separação adequada de 300 pés, isto quando todos conseguem fazer um tracking perfeito, com espaçamento igual. Na verdade, fazer separações imperfeitas exigirá um tracking mais longo.

Uma vez que não sabemos as direções nas quais os membros do grupo irão fazer o tracking, tudo o que podemos dizer com segurança é que cerca de 3 segundos após a abertura dos velames, os paraquedistas do grupo de 4-way com separação adequada podem estar em qualquer lugar dentro de um círculo de 724 pés de diâmetro (362 pés de raio, as setas na figura). Claro, a área pode ser maior se os membros fizerem o tracking mais longo. Podemos chamar isso de ESPAÇO DO GRUPO. O objetivo, então, é garantir tempo adequado ou distância de um grupo para o outro para que o espaço de um grupo não invada o espaço do grupo vizinho. Além de cada indivíduo precisar de sua própria coluna de ar, cada grupo também precisa de sua própria coluna de ar.

PROBLEMAS DE SEPARAÇÃO E COMANDO

  • Pouca separação de outro paraquedista (pouca habilidade no tracking ou altitude de comando baixa com tempo de tracking inadequado)
  • Paraquedistas incapazes de controlar o velame após a abertura (line twist ou velame girando devido a um freio solto)

As colisões entre paraquedistas do próprio grupo normalmente são por causa de uma combinação de erros. Por exemplo, não realizar a separação de outro paraquedista seguida por uma abertura ruim ou um velame fora de controle devido a um line twist ou por ter um dos freios solto na abertura.

DISTÂNCIA ENTRE GRUPOS

gráfico de separação de grupos 4-way e 8-way

Considerando um grupo de 8-way seguido por um grupo de 4-way, a distância mínima necessária entre o centro dos dois grupos na hora de comando seria de 900 pés

  • Para saltos com o PS na negativa, contra o vento, a velocidade do avião em relação ao solo é um fator importante
  • Quanto mais fortes os ventos no céu, mais lenta será a velocidade do avião em relação ao solo
  • Com ventos fortes espere mais tempo entre os grupos durante a saída
  • Saltos de grupos que irão se deslocar no vento tem menos influência na separação

OBS: A direção do vento no solo também irá desempenhar um papel importante nos requisitos de separação.

A velocidade e direção do vento no céu e no solo influenciam muito no tempo necessário entre os grupos para fornecer uma separação segura durante o comando. 

Para saltos que se deslocam conta o vento, quanto mais forte os ventos no céu, mais tempo deve ser dado entre cada grupo. Com uma velocidade no solo de 45 km/h, o avião cobrirá ½ milha em um minuto.

FLUXO ORDENADO

  • Os velames mais próximos representam um maior risco de colisão
  • Identificar o tráfego ao redor para determinar o que vai acontecer a seguir
  • Faça correções na navegação que irá ajudar a promover um fluxo ordenado de velames em direção a área de pouso

Depois do velame aberto, a ameaça mais imediata de uma colisão vem dos velames mais próximos de você. Pode ser uma distância horizontal ou vertical. Certifique-se de olhar a área de pouso com cuidado, acima, abaixo e horizontalmente. Esteja preparado para usar os tirantes traseiros imediatamente após a abertura, caso haja um velame próximo em rota de colisão com você.

  • A carga alar desempenha um papel significativo na hora da separação
  • Tente se manter na mesma área do seu grupo
  • Se você alcançar outro velame durante sua descida, deixe bastante espaço na hora de ultrapassar
  • Esteja ciente dos pontos cegos (acima e atrás)

Assim que estiver livre de qualquer velame próximo, você precisará planejar a descida com base na situação atual. Isso pode mudar drasticamente conforme você desce, com base no que os outros velames estão fazendo. Os velames menores irão descer rapidamente e frequentemente passarão por outros grupos de velames durante a descida. Aqueles que estão ultrapassando outros velames precisam respeitar o espaço aéreo desses velames e manter uma distância segura. Esteja ciente de que o paraquedista abaixo pode não estar te vendo por causa dos pontos cegos e pode fazer uma curva de último segundo que pode causar uma colisão se você estiver ultrapassando muito próximo. Se possível, fique no mesmo espaço aéreo com seu grupo para que os grupos pousem de maneira ordenada e a área de pouso fique menos congestionada. O uso dos tirantes traseiros ou navegar com meio freio pode retardar a descida se for necessário.

desenho do fluxo de tráfego de velame

Um bom fluxo de tráfego de velames será separado em grupos menores que se aproximam da área de pouso com uma distância adequada para evitar que a área de pouso fique lotada de uma vez.

desenho do padrão de pouso

Ao deixar a área de espera, cada grupo deve seguir um padrão de pouso estabelecido, usando curvas à esquerda ou à direita para a aproximação final. Isso ajuda a manter um fluxo ordenado do tráfego de velames até o pouso, e ninguém é atrapalhado por velames voando em direções diferentes. Se não houver vento e você seja o primeiro do avião que irá pousar, defina uma direção de pouso, e não mude. Os outros paraquedistas deverão seguir a mesma direção de pouso que o primeiro e assim todos irão pousar na mesma direção.

Problemas com o padrão de pouso

  • Pousos de alta performance separados dos pousos simples
  • Use áreas de pousos separadas ou faça a separação por tempo
  • Faça um padrão de pouso previsível
  • Aproximação final direta sem curvas em S

A USPA exige que todas as áreas separem os grupos que fazem pousos de alto performance dos grupos que fazem um pouso padrão. Isso é feito através com uma área de pouso separada para pousos de alto performance, ou através da separação por tempo, fornecendo um momento dedicado para velames de alto desempenho pousarem separadamente daqueles que estão realizam um pouso padrão. As curvas em S na aproximação final levaram a muitas fatalidades no passado. Cada curva do padrão de pouso deve ser executada de maneira previsível, sem usar curvas em S.

FATALIDADES DE COLISÃO DE VELAMES 1999-2019

gráfico com acidentes de colisão de velame

OBS: Os dados do gráfico se referem apenas a saltos nos EUA.As colisões de velame resultaram em várias fatalidades por ano na última década. Imediatamente após o comando e abaixo de 1.000 pés, são as duas áreas onde ocorrem a maioria das colisões. A curva do ponto B na aproximação final é um dos locais mais comuns para uma colisão de velame.

Embora nos últimos dois anos (2018 e 2019) não tenhamos tido uma colisão fatal de velame, ainda estamos recebendo relatórios de quase acidentes. Dois quase acidentes em 2019 levaram a curvas baixas não intencionais que resultaram em fatalidades.

Os paraquedistas precisam ficar atentos para o tráfego durante toda a navegação.

cone de colisão de velames

Altitude de comando – Solução: ordem de saída, tracking (direção e distância), verifique o espaço aéreo antes do comando, use tirantes traseiros para evitar colisão, vire à direita a menos que as circunstâncias determinem o contrário, na queda livre voe em direção oposta aos paraquedista que ainda irão sair do avião, localize todos os velames após a abertura.

Navegando para a área de espera – Solução: Verifique o tráfego, altitude e posição antes de cada manobra, nunca faça espirais, encontre a sua posição no tráfego em relação a outros velames, estabeleça uma separação vertical dos demais, voe previsivelmente e suavemente.

Área de espera – Solução: Nunca faça espirais, mantenha e aumente a separação horizontal e vertical, verifique o tráfego antes e depois de olhar as referências de solo.

Padrão de pouso – Solução: voar previsivelmente, evitar curvas em S, abrir caminho para o velame que estiver abaixo.

Este relatório foi publicado pela USPA no início de 2020 levando em consideração os saltos realizados no EUA, mas a parte de prevenção vale para todos, e lembre-se, em caso de dúvida procure sempre um instrutor qualificado, bom saltos e bom pousos a todos. Blue skies!


REFERÊNCIAS:

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