Hoje vamos contar uma história de que serve de alerta…
Muitas fábricas educam seus funcionários sobre a segurança e cuidado com as mãos, especialmente quando precisam trabalhar perto de máquinas pesadas. Não costumamos falar muito sobre essa segurança e cuidados com as mãos no paraquedismo, exceto por não recomendar usar anéis que possam ficar presas em algo e recomendar o uso de luvas quando estiver frio.
Dito isso, existe um tipo de lesão na mão que pode acontecer muito rapidamente no paraquedismo, com pouquíssimas opções seguras para resolver a situação. Quantos de nós colocamos as mãos nos tirantes enquanto os velames principais estão abrindo? Provavelmente a maioria de nós, então veja só… se você tiver um line twist violento nos seus tirantes e suas mãos estiverem segurando-os, é possível que o twist prenda um ou todos os seus dedos. Há MUITA tensão nos seus tirantes nesta situação, e você não vai conseguir tirar o dedo… pergunte ao Camilo.
A HISTÓRIA DE CAMILO
Camilo Garcés Duque comandou seu velame a 4.000 pés após um salto sem incidentes, e teve uma abertura no estilo “dois reais ou uma abertura misteriosa?” com o batoque direito solto em seu Comp Velocity de tamanho 90, carga alar de 1.9. Quando o velame começou a inflar, suas mãos estavam agarradas aos tirantes, pronto para usá-las se necessário para controlar a abertura.
Como os paraquedas costumam fazer, seu velame fez o inesperado, inicialmente virando para a direita enquanto ainda estava inflando (na direção do freio solto). Camilo puxou o tirante traseiro esquerdo para conter a curva. Observe que seu dedo médio esquerdo está atravessando a sobra da linha de freio do batoque alojado… voltaremos falar disso.
Ao inflar completamente, o velame finalmente obedeceu; a combinação do freio direito solto e de puxar o tirante traseiro esquerdo o empurrou bruscamente de volta para a esquerda, criando um line twist até o tirante, prendendo o dedo médio esquerdo de Camilo na torção.
Conforme o velame dava mais algumas voltas e começava a mergulhar, ele estendeu a mão direita mais para cima dos tirantes, resultando em um momento muito breve, mas sem dúvida aterrorizante, em que sua mão direita também ficou presa. Isso é o verdadeiro pesadelo no paraquedismo, ficar sem conseguir usar suas mãos!
Mas Camilo puxou a mão direita que estava presa aos tirantes e ficou com a mão direita livre novamente, e se manteve alerta, ele sabia que aquele velame definitivamente não estava adequado para pousar, então teve que desconectar, mesmo com medo de que a armadilha da sobra do freio no meio do seu dedo mantivesse o velame principal preso a ele. Com o dedo ainda preso, cerca de 10 segundos após o início do twist, ele fez praticamente a única coisa que podia fazer… puxou o punho desconector.
Não conseguir usar suas mãos, o verdadeiro pesadelo do paraquedismo!
O cabo desconector do principal se soltou com facilidade e o reserva foi imediatamente acionado, também com line twist, das quais ele conseguiu se livrar após vários segundos resolvendo o problema. Só então ele olhou para a mão esquerda e percebeu que a sobra da linha de freio enrolada em seu dedo, e/ou a borda do tirante principal em movimento, havia cortado parte de seu dedo!
Apesar da dor da lesão, Camilo conseguiu voar com seu reserva Optimum para um pouso confortável em pé na zona de pouso. Infelizmente, os médicos não conseguiram salvar a ponta do dedo.
Boas notícias: depois de um breve período de recuperação, ele voltou a saltar, começando com fun jumps e como cameraman, e agora fazendo saltos duplos novamente. Meus sinceros respeitos ao Camilo por interromper o salto e comandar a uma altitude inteligente de 4.000 pés, dando a si mesmo tempo para lidar com um problema terrível e ainda ter tempo e altitude para pousar em segurança!
VÍDEO
Assista ao vídeo do Camilo para ver e sentir o drama da situação que passou… ATENÇÃO, IMAGENS FORTES!
O que é mais importante: uma abertura no eixo ou um velame totalmente aberto?
ISSO PODERIA ACONTECER COM VOCÊ?
Obviamente, a tensão nos tirantes e nas linhas será maior com um velame de alta performance e com alta carga – mas todos os nossos tirantes e linhas são bastante sobrecarregados com o peso do nosso corpo sob eles. Torções de tirantes (intencionais ou não), comuns com line twist, apenas aumentam o peso e o potencial de lesões se seus dedos ficarem presos neles.
Lembre-se de que, se você reduziu o tamanho e/ou trocou por um velame de alta performance, problemas na abertura, como line twist, geralmente se desenvolverão muito mais rápido e se tornarão muito mais violentos do que em um velame maior. Hábitos como agarrar os tirantes para controlar a abertura podem ter resultados muito diferentes dos que costumavam ter com velames grande.
“As pessoas precisam entender os danos que as linhas (e os tirantes) do paraquedas são capazes de causar quando estão tensionadas”, comentou Stephen Rosier, gerente da DZ. “Lembre-se também disso ao considerar o TRV e o voo em ala com velames, especialmente com velames de alta performance”.
Priorize manter o corpo alinhado sob o velame, mesmo que ele esteja girando.
COMO EVITAR ESSA SITUAÇÃO
- A melhor maneira de evitar isso é manter as mãos completamente afastadas dos tirantes até que o velame esteja aberto.
- Se você colocar as mãos nos tirantes, envolver os dedos em volta deles pode não ser a melhor opção no caso de um twist que chegue até os tirantes como esse que acabamos de ver. Além disso, provavelmente é uma ideia melhor manter as mãos mais abaixo nos tirantes, mais perto do sistemas três argolas, onde há menos probabilidade de ficarem presas em uma torção, movendo-as para cima apenas quando você sabe que elas não ficarão presas.
- Considere suas prioridades durante a sequência de abertura. O que é mais importante: uma abertura no eixo ou um velame totalmente aberto? (o ideal seria ambos, claro, mas se você tiver que escolher, eu certamente optaria pelo velame aberto). Priorize manter seu corpo alinhado sob o velame, se possível, mesmo que ele esteja girando. Assim que ele estiver aberto e voando, será uma tarefa simples e sem drama colocá-lo de volta na direção inicial de abertura com um tirante traseiro. Por quê? Um paraquedas não voa normalmente quando não está totalmente aberto. Seus comandos normais no batoque e tirante podem ter resultados muito anormais. Este caso é um ótimo exemplo: o velame inicialmente girou na direção oposta aos comandos do batoque e tirante enquanto ainda estava inflando. Assim que o velame inflou o suficiente para tensionar todas as linhas, o ato de puxar o tirante traseiro esquerdo mais o batoque direito solto criaram a curva rápida de volta para a esquerda e a torção das linhas/tirantes. Se você sentir a necessidade de adicionar comandos de controle para “gerenciar” a abertura, provavelmente aproveitará mais os comandos do harness do que os tirantes, e o bônus: você não correrá o risco de prender as mãos em uma torção.
- Mantenha suas linhas em boas condições para reduzir todos os tipos de abertura ruins, incluindo twists.
Priorize a sua segurança com céu azul e pousos suaves!
REFERÊNCIAS:
