“Adrenalina no paraquedismo? Sempre vale a pena manter a calma!”
Isso é verdade se você está ouvindo seu chefe dar um feedback ruim sobre um projeto em que você se entregou para concluir, se você acabou de ficar preso no trânsito ou quando sua internet está lenta. A lição é clara. Mantendo a calma e manter o juízo em tempos de estresse é a melhor estratégia.
Mas quando se trata de paraquedismo, manter a calma nem sempre é tão fácil. Contudo, isso é uma “verdade verdadeira” porque estamos voando nossos corpos há milhares de pés acima do chão sem nada entre nós e a terra firme, em uma questão de segundos. Como você lida com o estresse envolvido durante seus primeiros saltos, ou efetivamente executa o procedimento de emergência para lidar com uma pane pode significar literalmente a vida ou a morte para um paraquedista. É importante que todos os paraquedistas, desde iniciantes até os mais experientes, tenham a capacidade de permanecer calmo, agir de forma correta e inteligente, e não ficar pânico quando chegar a hora de lidar com a resposta ao estresse.
QUAL É A RESPOSTA PARA O ESTRESSE?
A resposta ao estresse, comumente chamada de “reação de luta ou fuga”, é um instinto fisiológico animal para a autopreservação. A resposta de lutar ou fugir foi descrita pela primeira vez por Walter B. Cannon, um fisiologista de Harvard como o “resposta interna e adaptativa do corpo a uma ameaça. ”
Nesta resposta, o corpo libera catecolaminas, “hormônios de estresse” que imediatamente despertam os órgãos-chaves, preparando uma pessoa ou animal sob ameaça para se defender (luta) ou correr para escapar (fuga). O mais conhecido desses hormônios é a epinefrina, mais conhecida como adrenalina, que é produzida pelas glândulas adrenais, localizadas no topo de cada rim. Esses hormônios produzem uma série de efeitos fisiológicos que foram essenciais para a sobrevivência de nossos ancestrais que viveram em uma época quando os humanos se deparavam rotineiramente com ameaças físicas, como animais selvagens, que causavam ameaças imediatas à vida que poderiam ser encaradas lutando ou fugindo. Algumas dessas mudanças no corpo são muito úteis – até certo ponto. Além desse limite, torna-se contraproducente, até mesmo destrutivo.
As tensões que enfrentamos na vida moderna são muito mais prováveis de serem tensões psicológicas. Mas em algumas circunstâncias, colocamos em nós mesmos, como o paraquedismo, a ameaça física pode ser real, mas lutar ou fugir não resolve o problema. Na verdade, o problema pode ser agravado pela resposta ao estresse quando a melhor estratégia seria manter a calma e lidar com a situação de maneira fácil e ordeira.
O estresse e a ansiedade exagerados são o pânico. O pânico é um estado em que uma pessoa substitui o pensamento racional por irracional e ações potencialmente perigosas ou autodestrutivas. Como alguém que está com as roupas pegando fogo e continua correndo em vez parar, deitar e rolar, o pânico pode levar ao desastre. Dores de cabeça, dor abdominal, palpitações, náuseas, vômitos, diarreia, “alfinetadas” e “agulhadas” nas extremidades, movimentos descontrolados e uma sensação geral de destruição iminente são todos sintomas de um grave ataque de ansiedade e pânico. O pânico é considerado um contribuidor significativo para acidentes no paraquedismo.
O ALUNO ESTRESSADO
Para a maioria dos alunos, é comum ter alguns sentimentos de nervosismo, medo, antecipação e ansiedade. Essas reações fisiologicas são totalmente naturais ao se jogar de um avião estando há 12.000 pés de altura. Essas reações demonstram a nossa capacidade de superar a resposta primitiva de nosso corpo nos dando uma sensação de realização e ser capaz de desafiar e superar a natureza. De certa forma, estamos enganando a morte cada vez que saltamos de um avião.
Os alunos são muito propensos a serem afetados por uma forte resposta de estresse e entrar em pânico. Muitas pessoas que se aventuram no paraquedismo nunca experimentaram sentimentos tão fortes de ansiedade antes. Para estas pessoas, esta é a coisa mais assustadora e potencialmente mais perigosa que eles já fizeram em suas vidas. Eles podem experimentar o medo extremo e a incapacidade de controlar seus corpos. Alguns alunos relataram pernas trêmulas, incapacidade de controlar seu corpo, coração batendo forte, mãos ou pés suando ou formigando, alguns podem até desmaiar. Um aluno relata, “quando estávamos chegando perto da altitude de saída, meu corpo começava a tremer fisicamente, eu não conseguia me acalmar. Me senti como um total fracassado. ” Nesse caso, saltar do avião é provavelmente a última coisa que ele deveria fazer.
É importante que os instrutores de paraquedismo, que são mais propensos a manter a calma, manter o controle sobre os níveis de ansiedade de seus alunos. Sinais para notar que um aluno está passando por grave ansiedade incluem respiração rápida e superficial, respostas atrasadas ou inadequadas, suor excessivo e nervosismo. Devemos observar que quase todos os novos paraquedistas iram experimentar alguns desses sintomas. É uma resposta natural devida à atividade.
O problema surge se a resposta fisiológica do aluno é tão forte que irá impedir suas habilidades de executar a tarefa e ser capaz de fazer julgamentos críticos em queda livre e durante a navegação do velame. É uma questão de magnitude. Cada indivíduo responde a situações estressantes de maneiras diferentes, alguns podem ficar um pouco nervosos e perceber seu aumento da frequência cardíaca, enquanto outros podem se encontrar hiperventilados e preparados na porta. Às vezes assim, os instrutores precisam passar ao aluno que é comum para novos paraquedistas terem alguns desses sintomas e sentimentos, e apoiar a decisão de adiar o salto e focar em estratégias para reduzir a ansiedade (fornecidas abaixo).
À medida que ganhamos mais experiência no paraquedismo, aprendemos a nos manter relaxados e não ter pressa na antecipação do salto. Mas quando algo dá errado no céu durante a viagem de avião, durante a queda livre ou com o velame aberto, mesmo paraquedistas altamente experientes podem ser colocados em uma situação que faz com que experimentem o mesmo tipo de estresse e pânico como um aluno em um primeiro salto.
COMO PREVENIR QUE A ADRENALINA AFETE SEU DESEMPENHO
Como qualquer paraquedista experiente sabe, quanto mais você é capaz de relaxar em queda livre mais controle sobre o corpo você terá. Tensão e rigidez faz com que os alunos não sejam capazes de relaxar seus corpos e alcançar a posição selada estável. Quando eles não conseguem ficar estáveis eles ficam mais ansiosos, mais travados etc. – é um ciclo vicioso. Existem várias estratégias que podem ser seguidas para minimizar os efeitos negativos do estresse, que podem levar ao pânico.
Se você é um aluno nervoso, subindo para fazer um salto, comece concentrando-se em uma coisa.
Respire: A respiração deve ser profunda e lenta. Quando você for capaz de controlar sua respiração, você será capaz de obter controle de sua ansiedade.
Sorria: Sorrir libera substâncias químicas no cérebro que nos fazem se sentir melhor e mais calmos.
Observe: Veja vários saltos incríveis dias, horas e imediatamente antes do seu salto. Imagine-se passar com segurança por cada fase do salto, de embarcar no avião até sentir seu corpo no ar, de uma navegação perfeita até pousar exatamente no alvo. Olhe você mesmo sorrindo e veja como é bom.
Confie: Tenha confiança que você treinou exaustivamente para isso, você sabe o que está fazendo. Você está tão preparado quanto pode estar. Entretanto, se você não sente isso, então não salte antes de passar por mais treinamento e tiver todas as perguntas respondidas e técnicas treinadas. Você precisa conhecer seu nível instintivo e ter confiança que terá um desempenho exatamente como você treinou, não importa a situação que você se encontre. Para algumas pessoas, isso pode envolver mais treinamento e revisão do que outras. Não se sinta obrigado a seguir a progressão dos outros se não for o certo para você.
E finalmente, perceba que o paraquedismo é para se divertir. Se a ansiedade se tornou tão forte que você não é capaz de aproveitar o esporte, talvez seja hora de reconsiderar o motivo pelo qual você está fazendo isso. E as vezes simplesmente não é sua hora de saltar – e está tudo bem. Desça do avião. Ninguém jamais vai te ridicularizar por fazer um julgamento inteligente.
TREINO E MAIS TREINO
Todos os paraquedistas devem treinar continuamente cenários de panes em suas mentes. Observar e lidar perfeitamente com qualquer dificuldade que possa surgir, mantendo a calma e controle da situação. Quando treinamos as coisas mentalmente repetidamente, isso faz o cérebro agir como se realmente tivéssemos naquela situação. É importante treinar mentalmente cada cenário possível que você possa imaginar e fazer isso com frequência.
Para aqueles indivíduos que tentaram as dicas acima e ainda estão experimentando as sensações de estresse hiperativo e pânico, existem estratégias de tratamento. Esses indivíduos podem se beneficiar da terapia de biofeedback, que envolve fisiologia e monitoramento durante provocações simuladas. Imaginando ou assistindo vídeos dos eventos que causam a reação de luta ou fuga. Durante essas sessões você aprende a ser insensível ao provocador, bem como a controlar e gerenciar os sintomas para que eles não controlem você.
ESTEJA PREPARADO
No paraquedismo, como em muitos aspectos da vida, estar preparado é essencial. Em conceito, o que temos que fazer é bastante simples. Mas como alguém disse uma vez, no paraquedismo não é o que você precisa fazer, e sim quando você tem que fazer. Devemos continuar treinando mentalmente e fisicamente todos os cenários possíveis e esperar o inesperado para que, quando ocorrer, possamos ficar calmos, agir de forma deliberada e inteligente e não deixar o pânico nos vencer. Se mantivermos a calma em momentos difíceis, viveremos para contar algumas ótimas histórias e continuar curtindo um dos mais emocionantes esportes da terra (e acima dela).
Espero que esse artigo te ajude a se sentir melhor e curtir mais os seus saltos, e caso saiba de alguém que passe por isso, envie esse artigo para essa pessoa. Blue Skies!
REFERÊNCIAS:
[…] O estresse também pode ter um impacto em cada etapa do processo de tomada de decisão (Moschis, 2007). Janis e Mann (1977) concluem que o estresse percebido no processo de tomada de decisão é uma das principais causas de más decisões e erros. E isso é compreensível, se não sabemos ou entendemos o que está acontecendo o cérebro nos coloca na posição fuga – tema que já abordamos neste outro artigo. […]
[…] intenso e inesperado. Esta reação fisiológica, mais comumente conhecida como reflexo de “lutar ou fugir”, ocorrerá em resposta ao que pode ser percebido como um evento prejudicial: um ataque, uma […]