XRW: A mais nova vibe do paraquedismo

No paraquedismo, várias de nossas disciplinas possuem a palavra “relativo” no título. “Trabalho Relativo” (ou “TR”) é a palavra que usamos para descrever saltos de barriga – onde todos os paraquedistas ficam de barriga para baixo, e o objetivo é mover um em relação ao outro para gripar e fazer formas no céu. “Trabalho Relativo de Velames” (ou “TRV”) é a palavra que usamos para descrever a disciplina na qual vários (ou muitos) paraquedistas voam com seus velames em relação uns aos outros e se conectam em formas comparáveis, em inglês a sigla para Trabalho Relativo é RW, Relative Work.

XRW é a mais nova adição a esta família cheia de “parentes”. A sigla significa “Cross Relative Work”, algo como “Trabalho Relativo Cruzado”, ou hibrido, como prefiro chamar, e é a palavra que usamos para descrever a arte de voar grandes wingsuits com minúsculos velames.

Modalidade XRW

Esta disciplina não é para iniciantes. É um desafio desde o início encontrar pilotos capazes de navegar com sucesso no traje de wingsuit ou no velame. Trajes de wingsuit grandes exigem manuseio incrivelmente delicado (já que são amplamente reconhecidos como equivalentes a aeronaves, embora sejam as aeronaves mais perniciosas e mal-humoradas do planeta) e minúsculos velames parecem gostar de entrarem em uma pane de giros. Juntar os dois elementos é loucura. De fato: há um número relativamente pequeno de pilotos que realmente “encaixaram” com sucesso uma formação XRW.

TAMBÉM É INCRÍVEL

XRW é lindo de se ver. É revigorante ultrapassar os limites do que é possível. E há muito a ser dito sobre o grande desafio da coisa: fazer um salto XRW exige muita confiança, preparação e prática.

O XRW se tornou uma disciplina básica em uma lista de “coisas para se fazer no paraquedismo”. Assim como o freefly, você não começa em grandes formações, voo dinâmico ou coisas absurdas que a modalidade permite, você tem que aprender o sitfly primeiro.

XRW

XRW não é diferente, é importante entender e aprender a voar os fundamentos primeiro para manter o piloto de velame e o wingsuiter seguros antes de mergulhar em técnicas avançadas. Este artigo abordará o básico sobre:

  1. Equipamento: características do velame, carga alar e wingsuit.
  2. Regras básicas: zonas de perigo e zonas verdes para voar.
  3. Padrão: aproximação, navegação e separação.

EQUIPAMENTO

Vamos começar com que tipo de equipamento é necessário. Poderíamos mergulhar na toca do coelho do que é tecnicamente possível – você pode voar com um Velocity 84? Sim. Você pode voar com uma carga alar de 2.5? Sim. É fácil? Não. Então, para manter isso básico e uma receita para o sucesso, vamos repassar o que estamos procurando tanto do lado do velame quanto do wingsuit que mantém a o peso razoavelmente uniforme sem que um lado tenha que compensar o outro.

Escolha do velame

Os melhores velames para XRW são de alto performance e na faixa de tamanho de 62-67. Esse é o tamanho ideal. Muito pequeno e o velame tende a cair do céu com menos velocidade de avanço e uma velocidade vertical mais rápida do que o ideal para voar com um wingsuit. Um velame muito grande e eles têm mais sustentação, o que pode parecer estar flutuando para o wingsuiter.

Carga alar

Há uma variedade de carga alar confortáveis para voar com um wingsuit. A carga alar perfeita vai variar um pouco dependendo da combinação do paraquedista, forma e tamanho do velame e do wingsuit. A faixa alvo geral é de cerca de 3.2 e 3.5.

Wingsuits

A característica que procuramos com o wingsuit é que ele pode voar com uma velocidade de avanço que se sobrepõe à do velame, sem estolar no céu. Wingsuits intermediários e avançados tendem a funcionar melhor. Trajes menores da categoria iniciante não têm a velocidade de avanço no ângulo necessário, e trajes de corrida avançados frequentemente tem uma velocidade de estol muito próxima da velocidade no ar lenta necessária para voar com um velame, tornando o XRW muito desafiador. Um traje intermediário-avançado com uma boa quantidade de área de superfície e uma velocidade de estol relativamente lenta é o ideal.

REGRAS BÁSICAS

Para onde voar, para onde não voar e onde estão os outros. Antes de sair de um avião, vamos falar sobre o plano – para onde voar (zonas verdes), onde não voar (zonas de perigo) e onde saltar. Velames e wingsuits criam esteira de turbulência (burbles). Se o wingsuit voar na frente do velame, o rastro do wingsuit potencialmente irá colapsar o velame ou desestabilizá-lo, mudando sua trajetória (o que significa que o velame pode desviar para direção de seus amigos).

Nunca voe na frente do velame. O wingsuit deve estar voando mesmo com o piloto do velame na altura do ombro ou abaixo. Considere as linhas como raladores de queijo e fique abaixo delas. Além disso, os vórtices das pontas das asas do velame podem “atrair” wingsuits. O fluxo de ar da superfície de baixo para cima pode causar colisões de wingsuit/velame se um wingsuiter voar muito perto da ponta da asa do velame (já aconteceu antes).

“Nunca voe na frente do velame. O wingsuit deve estar voando com o piloto do velame na altura do ombro ou abaixo!”

Padrão de voo

Velames de alta performance e carga alar alta são extremamente sensíveis aos movimentos de harness, se o wingsuit estiver muito a frente dos tirantes ou linhas do velame, e mesmo um pequeno movimento de harness (esquerda/direita rápida de um piloto distraído ou excitado do velame) for feito, o velame irá girar rapidamente para a esquerda e para a direita.

Isso pode ser feito acidentalmente, mesmo com um olhar para a esquerda ou para a direita de um piloto de velame. Se você tiver que desistir por qualquer motivo – os wingsuits caem, os velames sobem. Um wingsuiter pode facilmente e rapidamente colapsar as asas e cair como uma pedra em comparação com um velame. Um piloto de velame pode tocar nos tirantes traseiros e produzir muito mais sustentação do que um wingsuit pode facilmente voar.

PADRÃO

Juntando tudo isso. Existem várias formas para aproximar o piloto do wingsuit com o piloto do velame, este é o mais simples que permite mais espaço para ajuste. O grupo de XRW geralmente será o último grupo a sair do avião. Enquanto mantém o salto conforme briefing, o piloto do velame sairá do avião, irá esperar cerca de 5 segundos e comanda seu paraquedas. O piloto do wingsuit ficará de olho no piloto do velame, garantirá que houve uma abertura tranquila com qualquer correção de direção necessária e, em seguida, sairá do avião.

O piloto do velame deve priorizar a proa, virando imediatamente pelo menos 45 graus fora da direção em que a porta da aeronave está. Guardar o sistema RDS o mais rápido possível e sem problemas e, em seguida, puxar os batoques. À medida que o wingsuit se aproxima, gire mais 45 graus para fora, de modo que, quando o velame e o wingsuit se encontrarem, eles fiquem 90 graus pra fora da reta de lançamento.

Velame e WIngsuit no XRW

O piloto do velame é a base e o navegador. Em algum ponto do salto, como um salto básico de wingsuit, haverá outra curva para voltar a DZ. Isso pode ser feito antes da curva pelo piloto do velame apontando com a mão para que ambas as partes saibam que a curva está chegando e pode ser feito lentamente, suavemente e juntos.

Separação – geralmente 5.000 pés, mas certifique-se de que esteja em uma altitude predeterminada, inclua isso em seu briefing e cumpra-o.

Coisas a considerar – aviões como o King Air podem ter uma velocidade de solo mais rápida na saída do que um avião como o Twin Otter. Se um piloto de velame tiver um pequeno atraso para sair de um King Air, e o piloto de wingsuit tem que esperar mais tempo na porta, a separação lateral será mais desafiadora do que se o velame tivesse um atraso maior e o wingsuit saísse antes. A saída no tempo correto é extremamente importante.

DICAS

Para o piloto de wingsuit

Proteja sua altitude. O objetivo não é se “gripar” o mais rápido possível; é fazer a formação com segurança e consistência, a velocidade virá com a prática. É muito mais fácil descer até o velame do que ultrapassar ou estolar e tentar subir de volta. Aproxime-se do lado e desacelere antes! Fique nivelado com o ombro do piloto do velame e deslize lateralmente para o seu slot. Se você desacelerar cedo, não vai travar seu traje quando chegar lá tentando perder muita velocidade de uma só vez. Quando você desliza em seu slot, você deve estar voando controlado e suavemente.

Dicas para o piloto de velame

Seja o mais eficiente possível com seu RDS, mas lembre-se: seja suave. Quanto mais quieto você puder ficar, melhor, então respire fundo e não tente se apressar – deixe o wingsuit vir até você, dê uma boa chave antes de sua vez no padrão de voo e depois uma boa iniciação suave, seja paciente.

Seja paciente e não se apresse para o grip.

Grip

Uma vez que você tenha a navegação e o padrão de voo, e o piloto do wingsuit esteja voando um slot próximo ao ombro do piloto do velame de forma consistente e silenciosa, você está pronto para tentar uma grip manual. Seja paciente e não apresse a grip! Piloto de wingsuit, leve sua mão até o alcance do piloto do velame. O piloto do velame segura o pulso do piloto do wingsuit para que o grip do wingsuit não se solte.

Grip no XRW

Depois de fazer o grip, os dois pilotos mantêm o braço totalmente estendido, sem mexer os braços ou o grip não vai durar muito. Piloto de velame, pode ser útil colocar um pouco de tensão no tirante traseiro oposto. Outra dica útil é que o piloto de wingsuit voe bem no nível do ombro do piloto de velame. Se você estiver abaixo e alcançando a mão do piloto do velame, você vai mudar o fluxo de ar e afundar, o que tornará difícil de manter o grip.

Vá treinar!

Agora que você tem um esboço do básico sobre equipamentos, padrões e zonas seguras para voar, vá treinar! XRW é uma disciplina super divertida. Ah, sim, se vocês estiverem usando capacetes abertos, também podem conversar durante o salto.

CONCLUSÃO

Se você está apenas começando no paraquedismo, tem um caminho longo e estimulante pela frente. Para vestir um wingsuit pela primeira vez, você precisará ter pelo menos 200 saltos e ser Categoria C; para pilotar um velame pequeno com habilidade (e pousar em segurança), você terá que ter muitos saltos em sua caderneta.

Lembre, treino é o caminho para o sucesso, se o XRW é seu objetivo vá atrás, mas aproveite o processo e cada salto até chegar lá. Blue skies!


REFERÊNCIAS:

Gostou do artigo? Compartilhe!

Deixe o seu comentário!

Se inscrever
Notificação de
guest

0 Comentários
Mais antigos
Mais recentes Mais curtidos
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários

Este site usa cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência em nosso site.